Eis que surge a figura do mochileiro




O mochileiro surge no momento em que surge a mochila de grande porte. No final dos anos 40 e começo dos anos 50, o modo mais fácil de possuir uma mochila usável era ir aos locais onde se vendiam os restos dos materiais usados na guerra. Ali se achavam mochilas, algumas botas, casacos, sacos de dormir, cantis, panelinhas, marmitas e todo tipo de quinquilharia necessária pra se cair na estrada.
Nos anos 60, jovens do mundo inteiro encantados com o movimento hippie e com a contracultura – que serão devidamente explicados depois – equipam-se e ganham o mundo.
Essa foi sem dúvida a época de ouro do movimento, em que conceitos como liberdade e independência dominavam a mente da juventude.
Acontece que nos anos 70, muitos jovens que caíram na estrada durante a década anterior começaram a se encaixar no mercado de trabalho, porque afinal, vida de mochileiro não é pra todo mundo e nem todos estavam dispostos a passar os próximos 40, 50 anos da vida viajando de um lugar pra o outro.
O mundo corporativo - que não é bobo nem nada - percebeu que esses jovens vistos até então como desajustados, eram mais dinâmicos, criativos, sabiam se virar em situações desfavoráveis, falavam várias línguas, eram comunicativos, enfim, possuíam características que o pobre menino criado na barra da saia da mãe dificilmente conseguiria desenvolver. Então, as corporações trataram de compor seus quadros gerenciais com eles: os jovens viajantes globalizados.
Isso mudou tudo, inclusive a visão dos pais que passaram a ver as viagens de mochilão com melhores olhos. E mudou também o mercado, que visando o lucro, imediatamente criou as empresas de intercâmbios para estudantes.
Os pais, acreditando que as viagens eram uma fase temporária, necessária para o desenvolvimento e importante para o futuro profissional de seus rebentos, compraram a idéia, e viajar sem a família, virou moda.
O que os pais não sabiam, era que talvez seus filhotes pudessem não gostar desse esquema de viajar supervisionado por empresas, com destinos pré-definidos, afinal, intercâmbio e mochilão são coisas completamente diferentes.
E o que as empresas não sabiam é que talvez esses jovens globalizados que para elas representava o futuro empresarial, talvez, apenas talvez não estivessem interessados em se enquadrar na rotina corporativa.
O resultado é: quem se adaptou, fez seus intercâmbios, estudou fora e depois voltou para a família e para a empresa multinacional e quem não se adaptou... bem, esses estão até hoje por ai, procurando por coisas que a sociedade comum jamais será capaz de proporcionar.
(texto baseado em ensaio retirado do site mochileiros.com)
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